sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Sobre Hedwig, The Musical

Espetacular.

Desde o momento que entra no palco até o momento de sua saída, Michael C. Hall surpreende.

Num primeiro momento pela maquiagem que mal o deixar ser reconhecido. Em outro, pelos trejeitos, caras e bocas que empresta ao seu personagem.

Sua voz também imprime uma riqueza ao personagem que, com sotaque alemão, conta sua trágica história de forma lúdica e, ao mesmo tempo, hilária.

Com interações pontuais com a plateia - alguns podem até achar agressivas - ele comanda um espetáculo de luz, cor e música, muita música.

Hedwig and The Angry Inch saiu do filme depressivo e angustiante para os palcos e tomou a forma de uma performance escandalosa e escancaradamente broadwayana.

Um luxo. Um must see.

(Sobre Hedwig, The Musical em 17/dez/2014 no Teatro Belasco, NY)

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Quando Eu Choro

Perdido. Desnorteado. Impaciente. Irritado. Sonolento. Triste.

Esses são apenas alguns adjetivos que podem descrever quem eu sou nos últimos dias.

Apesar das comemorações do meu aniversário, no último dia 02, terem sido marcadas pelas presenças de pessoas importantes na minha vida, incidentes que ocorreram desde então tem me deixado a cada dia mais introspectivo, mais pensativo, mais questionador.

Porque passamos a respeitar tanto pessoas que estão a nosso lado? Porque abrimos mão de coisas que a nós são essenciais pelo medo de ficarmos sozinhos?

Muitas vezes vem a sensação de que estou me esforçando sozinho para que algo de certo. Essa sensação é reforçada a cada decepção que passo com palavras ou atos a cada dia.

Choro. Intenso. Deixo meu rosto se desfigurar numa convulsão de dor e falta de ar. Em luto. Por algo que eu jamais queria que sumisse, mas morreu, transfigurou.

Pro futuro nada vejo. Apenas enxergo desesperança, abandono. Desrespeito.

E dói. Demais.
E machuca, ainda mais.
E choro, como nunca.
Apenas choro.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Minha irmã: Nopacai

A natureza decidiu que eu não teria irmãos e, assim, cresci filho único até os 20 anos, quando conheci Nopacai. Nossos gênios quase idênticos, nosso jeito e outras características fizeram que reconhecêssemos, um no outro, os irmãos que nunca tivemos. Ela, também filha única, compartilha do mesmo tom de pele, cor dos olhos e dos cabelos, embora seu liso natural seja um pouco mais liso que o meu. Enfim, uma irmã gêmea, mais nova que eu, nascida com pais diferentes. Mas gêmea na alma. No sentir. Na cumplicidade. Nas idéias.

Na noite de 25 de Agosto, cansado do trabalho, já indo dormir, recebi a notícia que ela estava em trabalho de parto com apenas 22 semanas de uma gravidez gemelar.

Me pus em marcha contínua dentro do quarto do hotel, sem parar, andando de um lado para o outro, esperando notícias que sua mãe me enviava, pouco a pouco, pelo whatsapp.

As poucas orações e rezas que sei valeram para passar o tempo de espera até saber que ela estava bem. Que as meninas, gêmeas, bivitelinas, apressadinhas, estavam bem. Na UTI, por razões óbvias, mas muito bem, segundo palavras da própria Vovó Misanuro e confirmadas na manhã seguinte pela mamãe.

Senti um alívio por elas. Por todas elas. Vovó, irmã minha e sobrinhas afilhadas. Me peguei chorando, agradecendo a Deus que tudo tenha saído bem nessa primeira etapa. Já pedindo iluminação, para saber o que fazer nas etapas seguintes com essas pessoas pelas quais tenho tanto apreço e amor e por essas pequenas que nem conheço ainda, mas já me fizeram verter lágrimas algumas vezes nessas ultimas 22 semanas.

Que venha o futuro. Que seu dono possa nos presentear cada dia mais, com aprendizados, humildade e nos permita viver com dignidade e saúde.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Sou filho de Deus e sou gay, sim!

Se tem uma coisa que me irrita demais, são esses evangélicos querendo jogar na minha cara que eu sou cria do demônio porque sou gay.

Quem eles pensam que são para apontar o dedo na minha cara e dizer que sou contra os ensinamentos de Deus, se eles são os primeiros a apontarem seus famigerados dedos e me julgar?

Os espíritas definem que somos gays porque escolhemos esse caminho antes de passar pelo véu do esquecimento e reencarnar.

Não tenho conhecimento nas outras religiões para dizer como cada uma vê a homossexualidade, mas essa luta que eles travam dizendo que estou errado, que estou no caminho tortuoso e que serei punido por isso, já deu. Já cansou. Já encheu.

Eu quero que eles cuidem de suas próprias vidas. Se não tem o que fazer, vão varrer uma casa, lavar uma pia de pratos, mas parem de encher minha paciência.

Eu sou filho de Deus.
Ele me fez assim.
Ele escolheu que eu fosse assim.

E se é das crianças que pertence o reino dos céus, por causa da sua pureza e inocência, eu digo que desse meus 5 anos de idade eu observo o corpo masculino. Antes não tinha interesse sexual, era apenas admiração. Então, eles vão contrariar essa máxima da religião, dizendo que eu estava sobre influência não-divina?

BALELA!!!

Sou gay. Sou filho de Deus. Temente a ele. Falem o que quiser. Sou feliz. Sou próspero. Sou respeitador. Sou educado. Sou tolerante.

Infelizmente, dessas pessoas, eu na posso dizer o mesmo.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Sobre "Azul Y No Tan Rosa"

Meus amigos me pegaram de surpresa e praticamente me jogaram dentro de uma sala de cinema cult para ver esse filme venezuelano, lançado no final de 2012.

Imediatamente, me envolvi com Diego (Guillermo García), um jovem fotógrafo, que conhece Fabrizio (Sócrates Serrano), seu grande amor, numa noitada em Caracas, um pouco antes de ter que receber Armando (Ignacio Montes), seu filho de 15 anos, vindo de Madrid, que passaria uma temporada com ele, enquanto sua mãe fazia um doutorado em Londres. 

Com alguns elementos previsíveis, o filme encanta pela doçura que leva uma história de drama e mexe com muitos medos que homossexuais enfrentam hoje. 

De um lado, a aceitação familiar de Diego por ser gay, seguido da relação conturbada com seu filho heterossexual que está descobrindo as maravilhas e lamúrias do amor. Ainda existe uma pincelada de drama pessoal, já que o filho também não sabia que o pai era homossexual. 

A diversidade de relacionamentos, retratada pelos pais de Diego, um casal de meia-idade que usam a discussão como forma de passar o tempo, em frente a programas populistas de TV. 

O alívio cômico, trazido pela maravilhosa personagem Delírio (Hilda Abrahamz) uma transexual que canta na mesma boite que Diego conhece Fabrizio. Delírio lembra muito Amparo, de Almodovar, em Tudo Sobre Minha Mãe, mas se diferencia pela altivez e classe, além de um par de colhões (no sentido figurado, é claro) que vem bem a calhar em certos momentos da história. 

A pedra filosofal da obra está em um grupo de rapazes que gostam de espancar gays na porta da boite. Esse é um dos vários medos e receios que gays tem, hoje em dia. E o filme se mostra realista e, de certa forma, brutal quando desenha esse cenário. 

Para evitar spoilers, eu apenas recomendo: assistam. Com o título de "My Straight Son", o filme foi ganhador de melhor filme íbero-americano no festival Goya, na Espanha e merece aplausos pela realização e qualidade de som e imagem. 

Azul Y No Tan Rosa, 2012, Venezuela, 114 min.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Meu Casulo e A Saudade

Desde que mudei de minha cidade natal para São Paulo, tento me manter presente na vida dos que deixei em Salvador. No início, era mais difícil. Hoje, com tantas ferramentas que temos à nossa disposição, essa comunicação facilitou. Tenho contato diário com pessoas que, antes, falaria por telefone a cada 15 dias.

Mesmo naquela época, no entanto, eu tinha problemas em sentir saudades. Tirando algumas vezes que me apaixonei, a saudade nunca foi exatamente um sentimento que permeou minha vida. Sinto falta de algumas pessoas e gostaria que elas estivessem mais presentes no meu dia-a-dia. Mas saudade, propriamente dita, foram poucas as vezes.

Já senti saudade, de não sair da cama. Chorar da hora que acordei até a hora que fui dormir.

Já senti saudade, de não comer. Sentir meu estômago se consumir em si mesmo, sem a mínima vontade de colocar um alimento sequer em minha boca.

Já senti saudade, de não falar. Passar dias e dias em silêncio, ouvindo apenas o som da minha respiração.

Já senti saudade, de ouvir apenas uma única música. Colocar na repetição e ouvir, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir da alvorada ao crepúsculo.

Mas foram poucas as vezes. Me permiti fazer isso porque queria sentir essa saudade em toda sua completude. Sair do poço usando a mola que tem lá embaixo. Ressurgir revigorado, com as energias restabelecidas pelo período de reclusão.

Acho que essa é uma das minhas características mais marcantes. Sou uma pessoa que reclama de tudo que incomoda. Mais de uma vez. Até o momento que paro de reclamar, porque paro de me importar.

É nesse momento que vou pro meu casulo. É no casulo que tomo minhas decisões. É no casulo que paro para pensar um pouco nas coisas, já que, sendo um ser de água, sou impulsivo por natureza. É nesse momento, que as pessoas mais próximas se preocupam, porque sabem que mudanças surgirão. Sabem que a substituição do sorriso largo pelo cenho franzido tem grandes proporções.

É, assim, eu acabo me expondo um pouco mais para quem gosta de ler um pouco dO Menino.

Obrigado, de novo, por me visitarem.

P.S.: eu utilizo a opção "seguir comentários". Depois, vou responder os comentários dos últimos posts para todos os amigos e parceiros de blog. Beijo para quem é de beijo. Abraço para quem é de abraço.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Uma licença para Rubem Alves

Preciso pedir licença para publicar um texto que não é meu. Me deparei com ele, apresentado por Rivae, um amigo muito querido e também muito culto, no que se refere a música e poesia brasileiras. 

Espero que, quem leia, possa se deleitar da mesma forma que eu, lendo aos poucos, sorvendo cada um dos parágrafos com sua peculiar graça e incomodante verdade. 

Beijos para quem é de abraços.
Abraços para quem é de beijos. 

Em tempo: o texto é de autoria de Rubem Alves e foi extraído do jornal "Correio Popular", de Campinas (SP), onde o escritor mantinha, antes de sua morte, coluna bissemanal.

A PIPOCA

A culinária me fascina. De vez em quando eu até me até atrevo a cozinhar. Mas o fato é que sou mais competente com as palavras do que com as panelas.

Por isso tenho mais escrito sobre comidas que cozinhado. Dedico-me a algo que poderia ter o nome de "culinária literária". Já escrevi sobre as mais variadas entidades do mundo da cozinha: cebolas, ora-pro-nobis, picadinho de carne com tomate feijão e arroz, bacalhoada, suflês, sopas, churrascos.

Cheguei mesmo a dedicar metade de um livro poético-filosófico a uma meditação sobre o filme A Festa de Babette que é uma celebração da comida como ritual de feitiçaria. Sabedor das minhas limitações e competências, nunca escrevi como chef. Escrevi como filósofo, poeta, psicanalista e teólogo — porque a culinária estimula todas essas funções do pensamento.

As comidas, para mim, são entidades oníricas.

Provocam a minha capacidade de sonhar. Nunca imaginei, entretanto, que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamente isso que aconteceu.

A pipoca, milho mirrado, grãos redondos e duros, me pareceu uma simples molecagem, brincadeira deliciosa, sem dimensões metafísicas ou psicanalíticas. Entretanto, dias atrás, conversando com uma paciente, ela mencionou a pipoca. E algo inesperado na minha mente aconteceu. Minhas idéias começaram a estourar como pipoca. Percebi, então, a relação metafórica entre a pipoca e o ato de pensar. Um bom pensamento nasce como uma pipoca que estoura, de forma inesperada e imprevisível.

A pipoca se revelou a mim, então, como um extraordinário objeto poético. Poético porque, ao pensar nelas, as pipocas, meu pensamento se pôs a dar estouros e pulos como aqueles das pipocas dentro de uma panela. Lembrei-me do sentido religioso da pipoca. A pipoca tem sentido religioso? Pois tem.

Para os cristãos, religiosos são o pão e o vinho, que simbolizam o corpo e o sangue de Cristo, a mistura de vida e alegria (porque vida, só vida, sem alegria, não é vida...). Pão e vinho devem ser bebidos juntos. Vida e alegria devem existir juntas.

Lembrei-me, então, de lição que aprendi com a Mãe Stella, sábia poderosa do Candomblé baiano: que a pipoca é a comida sagrada do Candomblé...

A pipoca é um milho mirrado, subdesenvolvido.

Fosse eu agricultor ignorante, e se no meio dos meus milhos graúdos aparecessem aquelas espigas nanicas, eu ficaria bravo e trataria de me livrar delas. Pois o fato é que, sob o ponto de vista de tamanho, os milhos da pipoca não podem competir com os milhos normais. Não sei como isso aconteceu, mas o fato é que houve alguém que teve a idéia de debulhar as espigas e colocá-las numa panela sobre o fogo, esperando que assim os grãos amolecessem e pudessem ser comidos.

Havendo fracassado a experiência com água, tentou a gordura. O que aconteceu, ninguém jamais poderia ter imaginado.

Repentinamente os grãos começaram a estourar, saltavam da panela com uma enorme barulheira. Mas o extraordinário era o que acontecia com eles: os grãos duros quebra-dentes se transformavam em flores brancas e macias que até as crianças podiam comer. O estouro das pipocas se transformou, então, de uma simples operação culinária, em uma festa, brincadeira, molecagem, para os risos de todos, especialmente as crianças. É muito divertido ver o estouro das pipocas!

E o que é que isso tem a ver com o Candomblé? É que a transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação porque devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser. O milho da pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer, pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos transformar em outra coisa — voltar a ser crianças! Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo.

Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre.

Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e dureza assombrosa. Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.

Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder um emprego, ficar pobre. Pode ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade, depressão — sofrimentos cujas causas ignoramos.Há sempre o recurso aos remédios. Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação.

Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: PUF!! — e ela aparece como outra coisa, completamente diferente, que ela mesma nunca havia sonhado. É a lagarta rastejante e feia que surge do casulo como borboleta voante.

Na simbologia cristã o milagre do milho de pipoca está representado pela morte e ressurreição de Cristo: a ressurreição é o estouro do milho de pipoca. É preciso deixar de ser de um jeito para ser de outro.

"Morre e transforma-te!" — dizia Goethe.

Em Minas, todo mundo sabe o que é piruá. Falando sobre os piruás com os paulistas, descobri que eles ignoram o que seja. Alguns, inclusive, acharam que era gozação minha, que piruá é palavra inexistente. Cheguei a ser forçado a me valer do Aurélio para confirmar o meu conhecimento da língua. Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar.

Meu amigo William, extraordinário professor pesquisador da Unicamp, especializou-se em milhos, e desvendou cientificamente o assombro do estouro da pipoca. Com certeza ele tem uma explicação científica para os piruás. Mas, no mundo da poesia, as explicações científicas não valem.

Por exemplo: em Minas "piruá" é o nome que se dá às mulheres que não conseguiram casar. Minha prima, passada dos quarenta, lamentava: "Fiquei piruá!" Mas acho que o poder metafórico dos piruás é maior.

Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem.

Ignoram o dito de Jesus: "Quem preservar a sua vida perdê-la-á".A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo a panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo.

Quanto às pipocas que estouraram, são adultos que voltaram a ser crianças e que sabem que a vida é uma grande brincadeira...

"Nunca imaginei que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamente isso que aconteceu".

quarta-feira, 16 de julho de 2014

11º Aniversário

Feliz Aniversário, Diario de Bordo

Há 11 anos, comecei a escrever como forma de registrar meus dias, meus pensamentos, minha rotina. Descobri uma forma maravilhosa de terapia, na qual podia desenvolver pensamentos mais profundamente, mais livremente. Resolvi contar casos, histórias, contos, loucuras. 

Descobri que havia outros loucos como eu, que gostavam de se expressar pelas palavras e comecei a freqüentar a blogosfera. Atrás de textos que me fascinassem, encontrei pessoas que me fascinam. Amigos virtuais que trocam idéias e elucubrações. 

É a esses amigos que, novamente, dedico esse post. Que venham novos. Que venham mais. A blogosfera é nossa. A festa também. 

terça-feira, 8 de julho de 2014

Sobre "Questão de Tempo"

"Questão de Tempo" de Richard Curtis é uma ode à segunda chance. Mas também um convite à reflexão da simplicidade da vida e de como pequenas decisões podem torná-la mais doce, mais agradável, mais gostosa. De uma forma completamente deliciosa, o filme navega pela vida de Tim (Domhnall Gleeson), um ruivo inglês que pode voltar no tempo. A construção da relação dele com seu par romântico (Rachel McAdams, de Mean Girls) e a forma como ele se relaciona com seu próprio pai (e as decisões tomadas nesse processo) são de uma inesperada fluidez e de um deleite mágico com gosto de final feliz. Ponto adicional para How Long Will I Love You, de Jon Boden, uma escolha até óbvia, mas perfeita para trilha sonora. 

About Time, 2013, EUA, 123 min

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Minha Mãe me Tirou do Armário

Estava chegando na academia, um dia, e recebi uma ligação da minha mãe. Bem direta, ela disse que precisava conversar comigo e perguntou se eu teria tempo. 

Daniela Mercury acabara de sair do armário com sua Malu Verçosa. Além da avalanche de revistas, com fotos de troca de aliança, felicidade conjugal, casamento e toda sorte de exposição na mídia, ainda me deparei com artigos e reportagens da bancada evangélica e dos moralistas de plantão, falando sobre a não-naturalidade de um amor homossexual. 

Eu, do lado de cá, aproveitei as mais variadas capas de revistas sobre o assunto e postei mensagens em redes sociais, defendendo meu direito de amar quem eu quisesse, que o meu tipo de amor por outro homem indifere do amor de um homem por uma mulher, que o respeito começa quando as diferenças são aceitas sem questionamentos. Todas as publicações devidamente acompanhadas com a hashtag #simsougay. 

Ao mesmo tempo, a empresa na qual trabalho passou por uma reestruturação e, com ela, tiveram que retroceder uma promoção que eu havia recebido dois anos antes. 

Essa ligação da minha mãe marcou minha vida porque foi o primeiro caso, por mim conhecido, de expulsão do armário. 

Logo depois que eu disse que teria, sim, um tempo, ela já disparou um texto que, sem dúvida, foi ensaiado exaustivamente até aquele momento.  

Ela disse mais ou menos isso: "filho, eu e seu pai estamos aqui e a gente sabe que você" - pausa dramática - "que vc é gay. A gente sabe que vc tem um relacionamento com Vapes e a gente te respeita por isso." - até então, nunca havíamos falado sobre minha sexualidade. "Mas eu acho que essa sua exposição no Facebook está sendo negativa para a sua imagem na empresa. Resolvemos ligar porque achamos que foi por isso que vc perdeu seu cargo e a gente não queria que isso acontecesse". 

Num primeiro momento, tive a certeza que meu coração parou por alguns segundos. Depois, ele voltou mais rápido que uma batucada do Carlinhos Brown ou uma bateria de escola de samba do Rio de Janeiro.  

Expliquei que todos os medos dela, nesse sentido, eram sem fundamento. Até porque, trabalhando com atendimento ao público, a empresa teria preferência por funcionários gays que se preocupam muito mais com requinte, bom gosto é bom atendimento. Aproveitei para afirmar algumas coisas que beiraram a grosseria, mas senti que era necessário.

Disse que era homem e que permaneceria assim. Que não tinha vontade alguma de ser mulher, de me vestir de mulher, usar maquiagem ou usar salto alto. Que o fato de eu ter um homem como companheiro para a vida apenas significava que eu não tinha uma mulher como companheira, mas que tudo o mais era exatamente igual: os problemas, as dificuldades, o companheirismo, a cortesia, o amor.

Achei que foi proveitoso. Agradeci a ela por ter a coragem que eu jamais tive, de me expor para eles. Deixei muito claro o quanto isso me emocionou e me deixou satisfeito e orgulhoso de tê-los como meus pais. 

E foi assim que eu eu fui expulso do meu armário. 

No iPod, Evolution canta meu tema com Vapes: "Walking on Fire". 

sexta-feira, 27 de junho de 2014

A Maldita Condução

Desde quando ser menos abastado virou sinônimo de falta de educação? Depois de algum tempo sem pegar ônibus, resolvi dar uma trégua pro meu bolso e peguei uma "condução" para o trabalho. 

Fiquei estarrecido com o volume que as pessoas falam uma com as outras no ônibus. O volume dos fones de ouvido, então, nem se comenta. 

Mas o que mais me chama a atenção é a falta de cuidado com o outro. Pessoas que estão dividindo o mesmo espaço que você. Seja pelo volume da voz ou do sei fone de ouvido, mas principalmente pelas bolsas, mochilas e sacolas. 

Perdi as contas de quantas vezes fui açoitado por alças ou tive que ajeitar meu cabelo porque alguma bolsa resolveu desalinhar a divisão do meu cabelo partido especialmente de lado para um dia de treinamento corporativo. 

Eu ando de mochila pra cima e pra baixo. O homem moderno não tem mais apenas a carteira e as chaves para carregar. Temos celulares, baterias extras, cabos, fones de ouvido, caderno de anotações entre outras coisas. E eu sempre tomo o cuidado para que minha facilidade não se torne um incômodo para outras pessoas. Ocupo uma cadeira com minha mochila apenas se há outros lugares disponíveis no ônibus, por exemplo. 

Mas essas situações  de  hoje me incomodaram tanto, que precisei escrever para desopilar meu fígado (risos). Um post rápido, quase indolor, tirando meu joelho que foi acertado por uma mochila que, sem dúvida, tinha pedras de granito em seu conteúdo. 

Pronto, falei. 

No iPod, Paula Cole canta Pearl. 

sexta-feira, 20 de junho de 2014

A Beleza Necessária

Recentemente, um amigo chamou a minha atenção quando troquei minha foto de perfil do Facebook. Nela, uso uma peruca longa, meio hippie, meio descabelada, com óculos escuros, boné e, de quebra, não estou sorrindo na foto. Foi quase que instantânea a reação dele que pipocou com um "que foto é essa?" No meu whatsapp (preciso falar desse aplicativo, depois. Me lembrem!) seguido de um "pare de se enfeiar".

Jelipir - rebatizado aqui por mim para preservar sua identidade original - acabou fazendo que eu me confrontasse com uma das realidades que sou inserido: a da beleza necessária. Quem seriamos nós, nas redes sociais, se não fosse essa tal beleza? Fotos de perfil, imagens de capa e tudo o mais que estão nas redes sociais acabam por criar uma imagem errada de quem somos na realidade. 

Existe uma prioridade em estar bem. Falsa, porque é apenas a necessidade de mostrar que está bem. Que está curtindo um bom prato, em um bom restaurante, em boas companhias.

É quando alguém nada contra a maré. Publica uma foto sem sorrir ou com tons mais escuros. E aí, vamos a exacerbação da "preocupação". Mensagens instantâneas aparecem em série. Como se uma imagem negra fosse um pedido de socorro, uma pedido de ajuda. 

O mais incrível é que, a grande maioria dos meus contatos, tem meu telefone. Meu whatsapp. Outros meios de mensagens. Pouquíssimos tiveram a  dignidade de ligar para sondar se tudo estava bem. Muitos, apenas comentaram o post com um "você está bem?". 

Até, eu até pensava que me abstinha desse conceito da Beleze Necessária. Quem me acompanha por outros meios que não seja o blog, conhece a minha fama de fazer careta, dar língua - muito antes de Miley Cyrus transformar isso em sua marca registrada - usar mascaras ou postar fotos horrendas criadas a partir de aplicativos do celular, sem ser uma tentativa de nadar contra a maré. É apenas para me divertir. 

Contudo, parece que muita gente se irrita com isso. Como se a publicação de uma imagem que não necessariamente exacerbe o que eu tenho de bom seja uma afronta a essas pessoas. Mas eles falham em perceber que, na verdade, estou apenas me divertindo. 

Contudo, não estou livre dessa necessidade de aceitação generalizada através de uma foto que mostre meus lábios carnudos, dentes brancos, sorriso perfeito, olhos sem marcas de expressão. Mas não. A Beleza Necessária é tão inebriante que, diante de uma imagem manipulada para que vc se pareça com um zumbi, um vampiro ou um lobisomem, as pessoas apenas riem para depois dizer o quanto você é bonito abaixo de toda aquela maquiagem. E eu gosto disso, também. 

Embora tenha parecido uma apologia à mim mesmo, esse última parágrafo, acreditem, não é. Não vou dizer a vocês que me sinto horrível, mas estou longe de me achar a ultima bolacha do pacote ou a ultima coca-cola gelada do deserto. Meu espelho tem sido cruel comigo nos últimos anos e essas palavras dos amigos servem de afago para meu ego, já tão machucado por tantas coisas que permeiam minha vida. 

(Aproveito aqui, para agradecer a cada um deles, publicamente, pelas palavras de carinho que recebo aqui, no facebook, twitter, instagram e todas as outras mídias que estou inserido.)

Enfim, a cada post que lemos ou acompanhamos, vemos a exacerbação das qualidades físicas enquanto percebe-se, a cada dia, que os defeitos são escondidos a sete chaves, nas redes que priorizam apenas o bem-estar, em detrimento da realidade da vida.

Queria ser diferente. Postei alguns textos do blog lá no Facebook. Mas não deu audiência. Então, resolvi não tentar mais aliar um e outro. O Menino blogueiro é diferente dO Menino do Facebook. 

Se é assim que tem que ser, que assim seja. 

No iPod: 2 Unlimited me leva de volta ao passado com Magic Friend. 
No iPad: Mais um episódio assistido de As Panteras. Estou terminando a terceira temporada. 

sábado, 14 de junho de 2014

A Experiência Universal

Meus amigos me conhecem pelo eterno moleque que sempre fui. Responsável ao extremo no trabalho, me deixo solto quando penduro a gravata e tiro o sapato social, tentando aproveitar ao máximo as oportunidades que a vida me apresenta, com bom humor, leveza e sempre carregando um sorriso no rosto. 

Dessa vez, passando por Orlando, tive a chance de conhecer mais um parque da cidade. Para deleite de duas colegas que não haviam ainda entrado nesse mundo mágico dos parques temáticos da Florida, acabei indo com elas para o Universal's Islands of Adventure.

Sempre carismáticos, fomos recebidos por inúmeros sorrisos e desejos de "bom divertimento". Já no estacionamento, percebemos a organização do negócio. Os carros vão parando na vagas, um após o outro, sem a permissão de estacionar onde quiserem. Precisam seguir a ordem que estão sendo apontados é, acreditem, isso faz diferença. Em minutos, um andar inteiro é preenchido de automóveis, sem que fiquem vagas ou a necessidade de procurar por elas. 

Na fila para a compra dos bilhetes, monitores gigantes informam preços e condições meteorológicas. Nesse parque, em específico, é possível promoção um ingresso que vale para o outro parque do mesmo estúdio: Universal Studios Florida. Como tínhamos pouco tempo, decidimos pelo bilhete simples para apenas um parque. 

Demos sorte do parque não estar tão cheio. Apesar disso, pegamos uma média de 30 minutos de fila por atração, o que não é muita coisa, levando-se em consideração os 90 a 120 minutos que podemos pegar, nas altas temporadas. 

Uma dica para isso é comprar o chamado Universal Express. Com esse bilhete especial, pegamos uma fila diferente, bem menor, com prioridade de embarque nas atrações. O preço de entrada comum, já comas taxas, fica em torno de US$102,00. Com o Universal Express, esse preço sobe para US$185,00. Contudo, acredito que seja diversão ininterrupta. 

Outra manhã para esse parque é iniciar pela ala dos Super Herois. É uma parte mais clássica do parque, com brinquedos mais antigos, apesar da manutenção os deixarem sempre em perfeitas condições de uso. Contudo, a tecnologia utilizada na ala do Harry Potter, por exemplo, pode diminuir a sensação de diversão das outras, caso seja usufruída antes. 

Antes de começar a brincar, procure o stand do Capitão America. É logo na entrada, à direita. Lá, você poderá comprar um copo da Coca-Cola Freestyle. Esse copo pode ser enchido "gratuitamente" em vários pontos do parque com mais de 100 opções de bebidas. Só de Coca-Cola, são 9 opções, incluindo a diet, caffeine free, sugar free, lime, vanilla, cherry, vanilla-cherry, raspberry, zero é lime-vanilla. Para os que não bebem refrigerante, tem limonada e ice tea. 

Se jogue de cara na montanha russa do Incrível Hulk. Além da alta velocidade, vários loopings e, óbvio, muita gritaria, é o início perfeito para o dia de aventuras. Esse brinquedo te surpreende logo no início, antes da primeira queda, mas vou me abster de comentar para não estragar a surpresa de quem vá depois. Mas o resultado, sem dúvida, é sair do brinquedo descabelado e suando, de tanta adrenalina.

A queda livre do Dr. Destino também me surpreendeu. Para quem já foi ao Hopi Hari, esse brinquedo é semelhante à Torre Eiffel. É menor a altura, contudo o susto é muito maior porque o elevador sobe repentinamente sob o efeito de luzes estroboscópicas e cortina de fumaça. Depois, despenca sob aceleração. A risada vem depois, de nervoso. Mas a experiência é incrível. 

O 3D do Homem-Aranha é outro clássico dessa área. Num carrinho, vc é levado pelas ruas de uma Nova York sob ataque de vários dos inimigos do aracnídeo. Sinta-se jogado de um lado pro outro, para cima e para baixo e, de novo, em queda livre, depois que os vilões resolvem te atacar para chamar a atenção do herói. É uma experiência puramente visual, mas que vale a pena. 

Aproveite o dia quente na ala do Jurassic Park. Com muitos brinquedos que molham de verdade, leve uma muda de roupa e uma sandália tipo papete ou crocs. Esses brinquedos  são divertidos, mas o calor exagerado junto com a roupa molhada são um convite a uma dor de garganta ou uma gripe - ambas indesejáveis quando se está de férias. 

Saia da floresta e entre no espetacular mundo de Harry Potter. Passe pelos portões de Hogsmeade, tome uma cerveja amanteigada e siga para a esquerda para sua visita a Hogwarts. É lá que vc vai fazer um passeio de vassoura com o próprio Harry, em torno do castelo, passando pelo meio de uma partida de Quadribol, fugindo de dragões e, claro, de Malfoy e dos Dementadores.

O vôo do Hipogrifo acaba sendo uma atração mais infantil e mais tranqüila, depois de passar pela montanha russa do Hulk, mas vale a pena para olhar os arredores do parque - e dar um descanso para o labirinto que já vai estar doido com tanto sobe e desce. Aconselho. 

De repente, chega-se na montanha mais ousada do parque: a Dragons Challenge. Veloz, com mais loopings e rasantes em florestas e riachos, a característica principal dessa atração é a falta de apoio para os pés, que ficam pendurados durante todo o vôo. Mais uma vez, chega-se suado e rouco no final da atração, mas com a risada solta de tanta adrenalina. 

O parque ainda conta com mais duas alas que não tivemos tempo de explorar: O Continente Perdido e a Terra de Seuss. Pelo que vimos, são atrações mais teatrais e infantis, mas tudo vale a pena pela ambientação perfeita de tudo, nos mínimos detalhes. 

Em resumo, um dia no qual a maior preocupação era curtir e ser feliz, com as companhias das colegas Maria Oshino e Laura Heller, a que devo agradecer imensamente por embarcar nessa maluquice comigo e se deixar ser criança de novo. 

terça-feira, 10 de junho de 2014

Aliança

E então o filho nasceu gay. Desde pequeno exibe trejeitos menos masculinos, dança, canta, adora interpretar e tem os sentimentos à flor da pele. Desde pequeno, lembra-se de observar atentamente os corpos masculinos nos vestiários dos clubes de natação que freqüentava, sem sentido sexual, por causa da tenra idade, mas com uma adoração daqueles corpos já formados. Músculos e pelos. A forma masculina em sua essência. 

Chegou a adolescência e, com ela, os desejos. Observar já não era mais suficiente. Mas todo o peso da sociedade, da moral e dos bons costumes resolveram cair sobre seus ombros. Em 1989 deu seu primeiro beijo, com uma menina que seria a consorte da Rainha do Axé, em 2013. Seguiu-se a grande paixão platônica da adolescência, Daniela. Depois, a primeira namorada fora dos muros do colégio,  Ana Paula. E assim vieram Marianne, Daniela, Flavia, Cristina e, enfim, Manuela, com quem passou belos anos e teve, pela primeira vez, seu coração inteiramente destruído. 

Nesses anos todos, quis realmente estar com todas elas, mas jamais deixou de observar a forma masculina. Modelos de sunga em outdoors captavam seus olhares. Capas de revistas com os galãs do momento o faziam pensar como seria estar com um deles. Entre uma e outra, claro, se deixava brincar com colegas de classe, amigos da natação ou os próprios vizinhos, curiosos, experimentais, se descobrindo e gozando cada momento. 

Aproveitou seu momento olimpiano. Atleta, campeão, corpo escultural, popular na escola ou onde passava, atraia olhares, sorrisos e galanteios. Exibia em regatas os músculos torneados dos braços, em bermudas as pernas definidas e, quase sempre sem camisa, o desenho dos peitorais trabalhados na água e o abdômen sem dobras. Reto. Liso. Teso. 

Com o coração partido, reencontrou uma amiga de infância, que conhecera quando tinha apenas 5 anos. E assim, teve seu primeiro contato com um mundo heterogêneo. Sem que ela soubesse de suas parcas experiências, o apresentou ao novo mundo, do qual nutria um eterno receio. Mas a música foi mais forte, o ritmo o dominou e, quando menos havia percebido, a pista de dança o tragava. Logo, serviu de ombro amigo para as confissões de sua amiga e, em seguida, usou o dela para se confessar: era gay. 

Dai, a inevitável sucessão de amores, idas e vindas que aqui ainda não cabe descrever. Até que 10 anos depois, por arte do destino, Jeci - grande amigo feito nesse meio tempo - lhe apresenta Vapes. E o que era para ser apenas uma daquelas paixões avassaladoras, se transformou em uma relação. Em uma parceira que, desde 2005, faz parte de sua vida. 

Nesse tempo todo, viveu às escondidas. Seus pais, alimentados pela gama de meninas que os apresentara ainda adolescentes, sonhavam com a tradicional família homem-mulher, com casamento na igreja, lua-de-mel, compra de apartamento, carro, filhos e preocupação com a educação deles. 

Mas ele não estava destinado a seguir esse destino imposto para si. Vapes se tornou seu companheiro. E hoje, 2014, ainda juntos, como todo casal, enfrentam uma montanha-russa de emoções. Aparam arestas, arrumam essa casa louca que é o coração, sempre em dúvidas se estão certos, mas com a certeza de querer uma coisa em comum: estar juntos. 

No meio desse mar de vida, decidiram que era hora de um passo a mais. Numa noite, depois de um papo gostoso e leve como há muito tempo não haviam tido, surge o pedido. Era 02 de Maio. Mais de um mês depois, 07 de Junho, eles trocaram alianças e assim, ficaram noivos. 

O que vem a seguir, é futuro.
Como todo futuro, ainda não está escrito.
Mas está destinado a ser o que quer que seja. 
E que seja o que os dois quiserem.
Porque a Deus pertence
Mas o arbítrio é deles.

domingo, 8 de junho de 2014

Sobre "A Culpa é das Estrelas"

(Não contém spoilers)

Depois de toda uma efusão de trailers e propagandas a respeito de "A Culpa é das Estrelas", me rendi a assistir ao filme na noite desse sábado com um grupo de amigo bem heterogêneo. Um heterocasal, uma heteromina e mais 4 homocaras, além de Vapes e eu (estou avisando ao autor de Cinema, Homens e Pipoca que peguei os nomes acima emprestados do blog dele).

É incrível como a percepção do filme varia de uma pessoa para outra, de acordo com sua vivência pessoal. Para uns, apenas um filme que foi feito para fazer chorar. Para outros, uma recordação de uma experiência que deveria ser esquecida (seja ela uma doença, um parece adoecido ou um amor que não deu certo). Para outros tantos, uma melação que poderia destruir, em teor de glicose, uma mistura de açúcar, marshmallow e chantilly. 

Para mim, foi uma poesia em forma de filme.

Poesia que faz você se apaixonar por Hazel Grace Lancaster, personagem principal da trama, pela sua atitude prática em relação à vida e sua condição terminal.

Poesia que faz você delirar ao conhecer Augustus Waters e seu sorriso cativante, sua insistência por uma vida de amores e risos, sua incansável paciência e a certeza de que tudo ficará bem.

Poesia que faz você abrir seu coração e ver, que além dos problemas, você pode ser feliz nos infinitos momentos que podem ser criados quando um coração encontra outro. 

Em um mundo no qual as relações estão baseadas na efemeridade e no sexo, assistir o desenrolar de um romance meio que à moda antiga, nos faz lembrar que existe ainda magia nesse mundo, que a espera pode ser vantajosa e que amar jamais é demais. 

Junte todos os vampiros e lobisomens adolescentes conhecidos do cinema atual.  Junte a eles, os anjos e caçadores de fantasmas dos livros adolescentes. Eles jamais chegarão ao pés de Gus e sua inverossímil complacência e atitude positiva. Sequer conseguiram limpar o chão onde pisa aquele que mostra uma fúria imensa, mas contida, ao ver os pedidos do amor de sua (curta) vida serem despedaçados por outra pessoa, que sequer merecia sua atenção. E o mais importante: se deixe levar pelo sorriso garoto, maroto, escroto, incontido e moleque de um adolescente que quer tudo, exceto o esquecimento. 

Hazel Grace é a antítese das mocinhas chatas, carentes e insuportáveis que temos visto por aí. Viaje em suas atitudes maduras, seus conselhos super diretos e a beleza da voz impressa por Shailene Woodley (de Divergente, 2014) à sua personagem. Meio menina, meio mulher, o tom rouco compõe uma impresso de fragilidade, que se confunde com a força que ela cria a partir, apenas, da aceitação inegável de sua doença. 

Cheguei leve em casa. Com aquela sensação de alma lavada. Por lágrimas, seguramente. Já que o filme é uma mescla de risos, sustos, amores e choro. 

Leve um lenço. E divirta-se com essa lindamente contada história. 

iPod em silêncio. 
No iPad, apenas o som das palavras tomando forma para esse post. 

terça-feira, 3 de junho de 2014

A Constância da Escrita


Escrever é um exercício constante. Desde o início do blog, em 2003, as idéias vem e vão em ondas. Quando as colocamos para fora, parece que tomam vida e passam a vir com mais força. 

Um dos exemplos para mim mesmo é o blog. Abandonado por meses a fio, basta voltar a escrever para as idéias fluírem como se nunca tivéssemos parado de ter essa interação, eu e ele.

A diferença é que o público que freqüentava o acervo de pescarias mentais acaba por abandonar, depois de algum tempo sem notícias suas. Retiram seu blog das listas porque sabem que as atualizações vão demorar de ocorrer - se voltarem a ocorrer, um dia. 

Mas a aura do blog me encanta. Com o advento do microblog do passarinho, as idéias antes desenvolvidas com ardor e poder se reduzem a míseros 140 caracteres que, usando da minha própria metalinguagem, acabei de extrapolar. Em outras palavras, a própria explicação da existência do Twitter ultrapassa sua auto-imposta fronteira. 

A rede social do Mark também é outro exemplo das atualizações superficiais que passamos a lidar diariamente. Não importa mais o aprofundar de pensamentos, o escancarar da alma, o choro das pitangas. Tudo passa a ser belo, prazeroso, lindo e ilustrado. Sim, as ilustrações das fotos nas melhores poses, com os melhores sorrisos, nos melhores momentos, com as melhores companhias e lugares inesquecíveis. 

Mas falho em ver onde está a profundidade dos discursos nessas chamadas redes sociais. Por mais diferentes que sejam as idéias dos outros, o fato delas serem debulhadas em mais de um mísero parágrafo, aqui na blogosfera, faz brilhar os meus olhos. Fico feliz em ver que existem seres que se preocupam em espalhar seus mirabolantes pensamentos, exacerbar suas opiniões, exercitar sua capacidade critica, seja ela de um um filme, de um livro, de um evento ou apenas idéias e fatos de um já tão batido cotidiano. 

E assim, eu tento retomar o meu prazer da escrita. Aos poucos, aproveitando os momentos de ócio para transforma-lo em criação. Voltando meu olhar para meu eu interior e me reapropriar de algo que sempre foi meu: minha capacidade critica, em forma de textos, crônicas, histórias e recados. 

Para você, que tem estado aqui, meu muito obrigado. Não ligue para a bagunça. As idéias são minhas, a casa é minha, mas eu adoro receber visitas. Fique à vontade. 


No iPod: Sirens, do album novo de Cher. 
No iPad: albums episódios da 3ª temporada de "As Panteras" me esperam. 

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Espetacular, esse Homem-Aranha 2


"O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro" traz de volta Andrew Garfield na pele do herói mais chato e falastrão de todos os tempos: o tal aracnídeo de Nova York. E eu acabo comparando o danado ao Robin (DC Comics) por algumas características básicas: conflitos internos, necessidade de preencher todos os espaços vazios de uma conversa com a própria voz e, claro, as saídas e respostas categóricas enquanto espanca o vilão da vez. 

Mais uma vez eu peço calma. Eu não desgosto dele. Estou apenas apontando uma característica que esse moleque com super-poderes tem. E Garfield traz isso de uma forma divertida para as telas do cinema. Fora que, assim que começa, vc gruda na cadeira com as imagens aéreas do Aranha saltando feito louco pelos prédios de NY para, depois, pensar: "caraca!!! O videogame desse filme tem que ser muito bom!".

Obviamente, isso se deve à estética "videoguêimica" do filme. Saltos. Efeitos especiais. Uso e abuso (sem se tornar inconveniente) de câmeras lentas para as seqüências de luta, que permitem visualizar (FINALMENTE) a trabalhosa coreografia que atores e dublês precisam aprender para levar essas cenas até nossos olhos ávidos por ação. 

Mas "O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro" me conquistou por algo mais. As angústias adolescentes do primeiro grande amor, as decisões que precisam ser tomadas quando apenas duas décadas nos separam de nosso próprio nascimento e as dúvidas, aaaah as dúvidas que sempre permearão nossas mentes quer a adolescência tenha passado ou não. Está tudo ali, aberto, exposto, sangrando, chorando, sem escrúpulos ou vergonha de mostrar a lágrima que cai, o nariz que fica vermelho ou a voz que fica embargada. 

Também vemos que existe uma paixão por NY, um dos meus destinos preferidos no mundo. As veias e artérias da cidade, cheia de carros, pessoas, bueiros, letreiros, propagandas e, não sei como, perseguições de carro. Preciso rir. Sempre preciso rir com cenas de perseguição na Big Apple, por ser inverossímil. Seria como dirigir na Av. Paulista a 100km/h, as 18h de uma sexta-feira, fazendo uma comparação bem tosca. Mesmo assim, me encanto. 

Me encanto também pela força da heroína, Gwen. Pela sensibilidade do mocinho, Peter. Pela jovialidade e serenidade da "mãe" Tia May. Pela seriedade do Sr. Policial Stacy que, embora tenha deixado o mundo dos vivos no primeiro filme, executa um papel importante nos questionamentos do menino das teias.

Enfim, é um filme controverso que pode agradar muitos por várias razões. E por elas mesmas, desagrada outros tantos. 


No iPod: Song for Zula, de Phosphorecent - da trilha do filme. 
Na TV: acabei de ver a série The Nanny. Fiquei devendo de assistir aos dois últimos episódios e, com o a evento Netflix, resolvi ver tudo de novo. Vapes, obviamente, me acompanhou nós últimos episódios. 

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Não sou Refinado. Sou contido.

Porra, como eu me sinto inadequado. Caralho, como é difícil ser eu mesmo, as vezes. Que saco. 

Queria deixar claro que eu não sou uma pessoa refinada. Eu sou apenas um cara contido. Eu sei como devo me portar em certos ambientes, mas nem sempre esse comportamento é fluido ou natural. É apenas contenção. 

Eu sou espaçoso. Eu falo alto e gesticulo. Ando arrastando os pés, quando estou de chinelo. Me jogo numa poltrona ou num sofá, como se fosse uma cadeira de praia. Eu gargalho estridentemente enquanto jogo minha cabeça para trás. 

Não é falta de educação ou de polimento. É apenas uma questão de comportamento. 

Ando tão encaixotado, limitado, preso por conta da minha própria profissão que, quando estou fora do meu personagem, preciso estravasar. 

É nesse momento que encontro olhares, palavras, comportamentos que simplesmente me reprovam. Logo a mim, absurdamente carente de aprovação por toda e qualquer pessoa que passe por minha vida. 

Nessas horas é que me pergunto se vale a pena ser social. Se vale a pena me cercar de tantas pessoas se, no final, o resultado será apenas igual: me decepcionar comigo mesmo.

Me olhar no espelho e me ver de uma forma que eu não gosto. Lembrar de palavras que disse e apenas não ser feliz com o resultado que elas provocaram. Sentir meu coração bater em tristeza por não corresponder à expectativas dos outros. 

Que merda.
Que saco. 
Que bosta. 

Agora é engolir seco mais uma vez. Desculpar-me novamente por ser quem sou e seguir. Como sempre fiz. Até que um dia eu mude. Ou siga tentando. 

domingo, 4 de maio de 2014

O Ninho é Meu e de Mais Ninguém


E se um dia, a gente acordar e ver que passamos a vida apenas agradadando aos outros? E se um dia, a gente se deparar com a ingratidão das mesmas pessoas as quais recebemos de braços abertos em nosso próprio seio familiar?

Tenho tanto medo de acordar velho. De acordar frustrado por não ter sido quem eu quisesse ou feito o que desejasse, só porque eu priorizei os outros e não a mim. 

Essas questões martelam diariamente em minha cabeça. Me consomem. Tiram minha paz interior e quase eliminam o sorriso que, costumeiramente, sai fácil dos meus lábios. 

Me vejo deitado e angustiado no colo de uma amiga, com um aperto no peito. Chorando como quem perdeu alguma coisa de muito valor. 

Me vejo andando sem destino pelas ruas, sem o afago do meu próprio lar. Suspirando pela falta de algo que jamais aconteceu. 

Não sei dizer o porque. Não entendo essa minha relutância em tomar as rédeas do meu espaço. Da minha casa e dizer "Chega! Não quero mais dividir meu ninho. Quero ficar sozinho!".

Tenho um medo gigante do que possa acontecer comigo no futuro. Essa lei do retorno. Karma. Ou sei lá qual nome o povo dá hoje em dia, para isso. Mas eu me enxergo mais velho, sem teto, sem amigos, porque eu fui (ou seria) o vilão de uma história que nem pedi que começasse. Vilão, sim, porque fui eu quem teria decidido que a casa não era mais o lar de outros. Mas, apenas meu. De mais ninguém. 

Minha razão, contudo, me compele a essa decisão. Hora de voar sozinho. Alçar minha independência. E absorver todo o aprendizado dessa situação toda. Amadurecer minhas asas para poder alcançar distâncias ainda maiores, sem correntes, sem amarras e sem prisões. 

Está na hora de bater asas. 

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Sobre "Ela"

Ela (Her, EUA, 2013) é uma massagem no coração. Sabe daquelas massagens que dão uns solavancos, de vêz em quando, que chegam a doer? Pois é. Desses. 

A narrativa quase que em primeira pessoa. Os diálogos. O roteiro. Tudo faz com que você se depare com um espelho. E nesse espelho, tudo que não é você, passa a ser. Porque fala de evolução desde o primeiro verso. E inputa valor em valores que nem sequer pensamos a respeito no dia-a-dia. 

Tudo foi feito para nos apaixonássemos por Samantha: a voz, a graça, a naturalidade que sua voz saia de um auricular e a suavidade que ela impunha em casa uma de suas frases. 

No final, percebi que não era por ela que me apaixonei. E sim pela pessoa que ele, Theodore, se tornou, depois de estar com ela. 

Consigo escrever apenas que senti a tradução de palavras como descoberta, redenção, superação. E uma conjugação que eu não conhecia do verbo amar. 

sábado, 26 de abril de 2014

Não Gosto Dessa Dor


Nossa… faz exatamente um ano que estive por aqui. Escrevi. Pus meus pensamentos para fora em forma de texto. Consegui concatenar minhas emoções em algo que pôde (ainda se usa esse acento?) ser traduzido em parágrafos.

Hoje, vivo um turbilhão de emoções que, muitas vezes, não consigo por em ordem. Amor, odio, raiva, alegria, gratidão, desconforto e outras tantas emoções que permeiam minha vida de forma constante e intensa.

Não sei trabalhar dessa forma. Não sei como por ordem nessa bagunça que está minha cabeça, nem meu coração.

Em conversa com minha terapeuta, eu percebi que preciso definir alguma prioridades. Coincidentemente, em uma videoconferência com ela, a mostrei uma foto de quando eu tinha 10 anos de idade. Queria voltar àquela época, onde tudo era mais fácil, mais livre, mais feliz. E, em sua sorrateira, mas fulminante inteligência, me fez enxergar que aqueles tempos não voltam mais.

Lembrei imediatamente do termo, em inglês, growing pains, que significa justamente essas merdas que temos que passar para amadurecer e encarar a vida adulta. Não gosto dessa dor. Me apego a qualquer momento de alegria, de felicidade radiante, para que eu possa suportá-la. E aprendi que elas são necessárias. Não gosto dessa dor. Mas preciso passar por essa fase. Não gosto dessa dor.

Não gosto dessa dor.